Rotas dos Azulejos - Gilberto Renda
7 história de Portugal, dos usos e costumes da vida rural, ou o ambiente e a vida marítima e fluvial. No Sul, as estações de Santiago do Cacém, Sines e Vila Viçosa são exemplos de gran- de beleza decorativa, sendo que no caso de Sines, para além dos painéis artísticos são in- troduzidos atapetados nos vãos arquitetóni- cos da fachada com um surpreendente efeito decorativo. Em Vila Viçosa, os painéis e quadros artísticos em azuis, são emoldurados por bordaduras em estilo “rocaille”. Aqui os temas percorrem quadros da história de D. João IV e da Res- tauração em Portugal, monumentos de Vila Viçosa e cenas da vida agropecuária alenteja- na; a cortiça e os cereais. A estação de Santiago do Cacém, produzida na época de Henrique Constâncio, datada de 1931-32, apresenta igualmente quadros da vira rural, paisagens e monumentos e tem ainda aplicados azulejos de padrão da Fábrica Sant’Anna, que enriquecem e complemen- tam o conjunto dos painéis artísticos, recor- rendo ao emprego de um padrão clássico seiscentista, quadrilobado, em azul e amare- lo, ou noutros espaços a silharia é preenchida com motivos da azulejaria joanina. Mas, no caso da Estação de Caminha, em vez do neobarroco ou rocaille que emoldura gran- de número de casos deste tipo de painéis, Gilberto Renda constrói uma silharia que se desenvolve em torno do edifício principal da estação, socorrendo-se de uma linguagem neoclássica colorida, em estilo Dona Maria, inserindo nos tramos de parede, entre vãos, 19 quadros com medalhões de pintura mo- nocromática em azuis. Não esqueçamos, que o grande conjunto das antigas estações ferroviárias, mesmo até à década de 1960, utilizava um vocabulário ar- quitetónico revivalista, nas várias cambiantes do dito estilo português modernizado, ou su- avizado, durante o período do Estado Novo, sendo preferencialmente as opções temáti- cas da pintura dos painéis decorativos, em- pregues como silharia, com recurso a quadros construídos a partir das belezas ou imagens de cenas da etnografia regional. Na diversificada produção deste artista, de- vem ainda ser referidas mais algumas obras. São também da sua autoria os painéis exis- tentes no atual Pavilhão Carlos Lopes, no Parque Eduardo VII, em Lisboa, construído nos anos trinta do século XX, para a Grande Exposição Industrial Portuguesa. Gilberto Ventura Terra Renda, nasceu em 18 de dezembro de 1884, em Seixas e faleceu em Lisboa a 30 de novembro de 1971. Filho de José Gonçalves Renda e de Maria Rosa Terra, que tinham casado a 17 de janeiro do ano em que nasceu. Uma semana depois do dia do seu nascimento, no Dia de Natal, foi batizado na Igreja de S. Pedro de Seixas, ten- do sido seu padrinho o seu tio Miguel Ventu- ra Terra, então estudante com 18 anos, e que se viria a tornar numa figura cimeira da arqui- tetura moderna em Portugal. Este arquiteto, que sempre recorreu a pintores e escultores contemporâneos nas suas obras, como o fez na Câmara dos Deputados, teria certamente influenciado e apoiado muito e sempre a sua carreira de estudante e profissional. Gilberto Renda chegou a morar em Lisboa, na casa do tio, na Rua Alexandre Herculano que o convi- dou a participar em alguns dos seus projetos, no campo da pintura decorativa. Gilberto Renda teve a sua formação artística e foi discípulo de Veloso Salgado, concluindo o Curso de Pintura na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Obteve em 1910 o Prémio Tomás d’Anun- ciação e de 1912 a 1913 foi bolseiro do le- gado Valmor em Paris. Recebeu ainda vários prémios e medalhas, da Sociedade Nacional de Belas Artes, foi pintor de cenários para teatro, em parceria com Luís Amâncio e Fre- derico Serra, elaborando trabalhos que eram assinados como “Renda, Serra & Amâncio”. Também acompanhou as mudanças da fá- brica, da Rua de Sant’Anna à Lapa, para as instalações transitórias na Rua da Junqueira, até à fixação na Calçada da Boa-Hora. Gilberto Renda terá sido o pintor que mais influência teve no curso que a pintura da Sant’Anna assumiria nas suas obras, pois o mestre que lhe sucede, Rogério Amaral, ape- sar de pertencer a outra geração aprendeu e desenvolveu a arte de pintura em azule- jo, tendo, sem dúvida, herdado muito deste mestre, com quem trabalhou desde a década de 1930, para depois lhe suceder. Gonçalo Couceiro, “Elementos para a História da Fábrica de Faiança e Azulejos Sant’Anna, desde 1741, 2015
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