Preservação do Lince-Ibérico: uma década de compromisso e ação

Ambiente e Sustentabilidade
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No âmbito do décimo aniversário do processo de reintrodução do lince-ibérico em Portugal, a IP pretende sensibilizar a população em geral para a responsabilidade coletiva de conservação, visando a redução dos atropelamentos mortais destes felinos.

A reintrodução do lince-ibérico no território português começou com o casal de linces Jacarandá e Katmandú, provenientes, respetivamente, do centro de reprodução do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, em Silves (CNRLI) e do centro de cria do OAPN, em Zarza de Granadilla, na Extremadura em Espanha, os quais foram libertados no cercado de solta branda ou de aclimatação, instalado na Herdade das Romeiras, em São João dos Caldeireiros, no concelho de Mértola, no âmbito do projeto LIFE Iberlince. 

Até hoje já foram libertados no vale do Guadiana, nos concelhos de Mértola, Serpa e, a partir de 2022, também em Alcoutim, 61 exemplares nascidos em cativeiro, aos quais se juntaram, pelo menos, três dispersantes, oriundos das populações vizinhas da Andaluzia e da Extremadura. Aos 10 linces libertados entre dezembro de 2014 e maio de 2015, juntaram-se nove exemplares libertados em 2016, oito em 2017, seis em 2018, sete em 2019, em 2020 e em 2021, cinco em 2022 e dois exemplares em 2024, acrescidos das, pelo menos, quatro centenas de crias nascidas em liberdade, do que resultou uma população sobreviva, recenseada no final de 2023, de perto de 300 exemplares.

Este acréscimo populacional refletiu-se consequentemente numa significativa expansão territorial a partir do núcleo inicial de Mértola, com maior expressão a sul da ribeira do Vascão, tendo-se constituído uma subpopulação estável no Algarve, em Alcoutim.

Em 2014, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classificava a espécie como “Criticamente em Perigo”, contudo, e em resultado de um trabalho conjunto da iniciativa ibérica de reintrodução, em 2016 a espécie passou a ser classificada como “Em Perigo” e, finalmente, em 2024, foi reclassificada como “Vulnerável” a nível global da península Ibérica. Este esforço é amplamente reconhecido como um dos mais notáveis exemplos de recuperação de uma espécie que esteve muito perto da extinção.


Do Iberlince ao Lynxconnect


A partir de setembro de 2020 teve início um novo projeto, o LIFE – Lynxconnect, cujo objetivo central é o de serem identificados, caracterizados, estabelecidos e geridos ativamente corredores de conexão ou pontes (“stepping stones”) entre as populações originais da Andaluzia e as reconstituídas a partir de 2014, quer na Andaluzia, quer em Castilla-La Mancha e Extremadura, quer mais recentemente (desde 2024) em Múrcia e, a partir de 2025, também em Castilla-Léon. Prevê igualmente a consolidação e reforço dos núcleos populacionais criados no âmbito do anterior projeto LIFE Iberlince. 

O Senado Espanhol, numa sessão solene realizada a 20 de junho, reconheceu o mérito de todos os parceiros, incluindo a IP, no atual projeto de conservação da espécie, o projeto LIFE Lynxconnect. Esta distinção destaca os resultados alcançados e a importância do trabalho colaborativo.


Compromisso IP da preservação da biodiversidade


Sendo o atropelamento uma das maiores causas de mortalidade do lince-ibérico, a Infraestruturas de Portugal (IP), enquanto parceira do projeto, tem vindo a implementar medidas nos troços de estradas mais críticos, tais como a instalação de painéis de alerta e sinalização rodoviária, a adaptação de passagens seguras sob a estrada, a instalação de vedações adequadas à espécie, a instalação de controladores de velocidade, e a limpeza da vegetação nas bermas para aumentar a visibilidade dos condutores e dos animais.

Em 2024, a empresa, aproveitando a monitorização dos linces através do sistema LoRA, que permite obter a localização de linces em tempo real, estabeleceu parceria com o ICNF e a Comunidade Waze Portugal, visando assinalar na aplicação móvel da Waze a proximidade dos felinos ameaçados junto de várias estradas.

O sistema está a funcionar na EN122, EN123 e no IC27, na zona do Vale do Guadiana. Os alertas são acionados assim que os animais entram nas áreas virtuais de território com 200 metros de largura, adjacentes às vias, para ambos os lados da faixa de rodagem. É expectável que esta tecnologia possa ter um papel determinante na redução de acidentes, salvaguardando a espécie e melhorando a segurança rodoviária.